sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

DIVÓRCIO

"Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu não separe o homem." (Mateus 19:6)

Assim como, nos Dez Mandamentos, o Eterno ordenou para não matar, não roubar, não cobiçar, etc. O teor de autoridade das palavras de Jesus aplicada em Mt. 19:6 é o mesmo de os Dez Mandamentos; e eu ousaria dizer que essa ordem do amado Mestre (“..., O QUE DEUS UNIU NÃO SEPARE O HOMEM.”) seria como se fosse o “11º Mandamento”.
O Eterno ordenou: “não matarás”, no entanto o homem mata;  
“não cobiçarás”, no entanto o homem cobiça;
Da mesma maneira Jesus ordenou: “não separe o homem”, mas em desobediência o homem separa.
"Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne....”  
Sou casado há 17 anos e tenho dois casais de filhos. Sou apaixonado, enamorado pela minha casa. E a cada dia, mês e ano que passa percebo o quanto sou dependente de minha esposa, assim como meu braço direito é dependente do esquerdo. Se eu viesse a perder meu braço esquerdo e no lugar fosse colocado uma prótese, o relacionamento do braço direito com o braço-prótese jamais seria o mesmo que com o original.  Nunca teria a mesma sincronia, a mesma naturalidade. Seria um relacionamento mecânico. Não teria a mesma química que com o braço/esposa original.    
“É permitido ao homem separar-se (repudiar) de sua esposa?”  (Mc. 10:2)
Devemos entender a pergunta dos fariseus:
A palavra que o N.T. usa  para traduzir  “repúdio” vem do verbo grego apoluo. Esta é a palavra que os autores do Novo Testamento usaram como equivalente a shalach - שַׁלַּח (“deixar”ou “repudiar”) do Primeiro Testamento. Havia virado costume comum para o marido israelita o repudiar a sua esposa. Mas “repudiar” não tinha o mesmo sentido que entendemos hoje de “divorciar”.
Apoluo, a palavra grega que significa deixar de lado ou repudiar, não significava tecnicamente um divórcio, apesar de às vezes ser usada como sinônimo. Tratava-se de um termo de domínio total masculino: o homem com freqüência tomava outras esposas e não dava carta de divórcio quando abandonava a anterior. As mulheres eram “repudiadas” quando seu marido se casava com outra, para estarem disponíveis quando este necessitava dela ou a queria novamente, repudiadas para serem sempre propriedade, como escravas, ou ficando em isolamento total. Elas eram “repudiadas” para favorecer outras, mas não lhes era dada carta de “divórcio” e, consequentemente, tampouco o direito de se casarem novamente. Essa palavra descreve uma tradição cruel e comum, mas contrária à lei judaica. Algumas das injustiças e do terror experimentados pelas mulheres daquele tempo que eram “repudiadas” podem ser vistas na descrição que o Langenscheidt Pocket Hebrew Dictionary (McGraw-Hill, 1969) faz da palavra shalach (שַׁלַּח): “A fé cristã lançou raízes e floresceu em uma atmosfera quase totalmente pagã, onde a crueldade e a imoralidade sexual eram normais e onde a escravatura e a inferioridade da mulher eram quase universais.”

 Então a pergunta dos fariseus foi: “É permitido ao homem deixar (de lado)  sua mulher e casar-se com outra?”
Ao que Jesus responde com outra pergunta:

“O que lhes ordenou Moisés?”  (v. 3)
Ou:
“Essa é a tradição de vocês. Foi isso que lhes ordenou Moisés?” (Paráfrase)

E eles replicaram: “Moisés permitiu que o homem desse à sua mulher uma certidão de divórcio e a mandasse embora” (v. 4)
A diferença entre “repudiar” e “divorciar” (no grego apoluo e apostasion) é crítica.
1.      Apoluo indicava que a mulher era escrava, repudiada, sem direitos, sem recursos, roubada em seus direitos básicos ao casamento monogâmico.
2.      Apostasion significava que o casamento terminava, sendo-lhe permitido um casamento legal subseqüente.
O sentido de “apoluo / repudiar” supracitado que era comum à época, também era contrário à lei judaica.

·        O que dizia a Lei?
A Lei de Moisés permitia que o marido israelita repudiasse sua mulher, mas os motivos pelos quais ele podia tomar tal deliberação tinham algumas restrições:

1.      Eram tidos como problemas graves na sociedade israelita a mulher ser incapaz de gerar filhos,
2.      possuir defeito físico,
3.      fluxo irregular de sangue durante a menstruação,
4.      proceder com descuido durante o período menstrual e no descuido outras pessoas ter contato com o sangue.
 A pessoa que tivesse contato era considerada cerimonialmente impura, o que impelia a todos a exigir cuidados redobrados  (Levíticos 15.19, 27).
Se um israelita casasse com uma mulher com este perfil poderia assinar um documento de divórcio e mandá-la embora de casa.
E se depois de divorciada essa mulher viesse a se casar com outro israelita e neste segundo casamento ela ficasse viúva novamente ou se tornasse divorciada, o primeiro marido era impedido de reatar laços matrimoniais com a ex-esposa. 
Nestes casos, entre os judeus não era errado a mulher casar outra vez.
A mulher israelita divorciada de dois maridos  não tinha impedimento algum para casar-se de novo, desde que não fosse com seu primeiro marido (Deuteronômio 24.1-2).
O veto ao primeiro marido era uma maneira de coibir aos homens agirem impetuosamente contra suas esposas e de proteger a reputação das mulheres, que poderia ser vista com alguém imoral e de más intenções.
(LEBD 2013)
Com a resposta que os fariseus deram a Jesus, fica claro que o deixar de lado (repudiar) a esposa e casar com mais uma não é licito.
Na sequência Jesus condena a permissão do divorcio instituída por Moisés, vejam:
 “Moisés vos deixou escrita essa lei por causa da dureza dos vossos corações!
Mas não foi assim desde o princípio. Deus os fez homem e mulher”.
  ‘Por esta razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua esposa,
 e os dois se tornarão uma só carne’. Dessa forma, eles já não são dois, mas sim uma só carne. 
Portanto, o que Deus uniu, não o separe o ser humano!” Mc. 10: 5-9
Com isso o Senhor está condenando não só o divorcio, mas também o repudio (apoluo- Gr. / shalach – Hb.).
·        HÁ ALGUMA CONDIÇÃO BÍBLICA PARA O DIVÓRCIO?
O Senhor responde de forma clara e definitiva: “..., a não ser por causa de infidelidade,...” Mt. 5:31
·       O ETERNO AUTORIZA OU NÃO?
Sim, mas essa autorização está condicionada.
Jesus reconheceu que em caso de adultério o divórcio possa ser uma triste medida necessária em caso do cônjuge adúltero ter coração endurecido e não se arrepender de sua infidelidade e manter-se infiel, ou de a parte ofendida ter seu coração endurecido e não ser capaz de perdoar o cônjuge adúltero que se arrependeu e se dispõe a voltar a dedicar-se de maneira correta ao laço conjugal.
(Por. Eliseu Antonio Gomes)

·        HÁ ALGUMA SITUAÇÃO EM QUE É PERMITIDO O DIVORCIADO CONTRAIR NOVO MATRIMÔNIO?
Sim, em caso de infidelidade conjugal.
Para o ofendido, só é permitido o novo matrimônio caso o ofensor não se arrependa do seu erro.
Já para o ofensor, de forma legal, se arrependido, no caso de a parte ofendida ter seu coração endurecido e não for capaz de perdoar.  
·        E um casal que está no segundo casamento e se converte nessa situação?
Para um casal que antes de conhecer a Cristo se divorciaram dos seus respectivos cônjuges e se casaram e após conheceram o evangelho,  para esses o tempo da ignorância não é levado em conta. (At. 17:30; 1 Tm. 1:13; 1 Pd. 1:14)
·        Mas se o convívio marital estiver insuportável, o que fazer?

Existe um ditado popular que diz que é normal haver “briguinhas” em um casamento.
Se atentarmos para as sagradas Escrituras, veremos que esse “ditado” não deve se aplica no contexto cristão.
Toda mulher sábia edifica a sua casa; mas a tola a derruba com as próprias mãos. (Pv. 14:1)
O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e precedendo a honra vai a humildade. (Pv. 15:33)
Do mesmo modo, mulheres, sujeitem-se a seus maridos, a fim de que, se alguns deles não obedecem à palavra, sejam ganhos sem palavras, pelo procedimento de sua mulher,
observando a conduta honesta e respeitosa de vocês.
A beleza de vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e jóias de ouro ou roupas finas.
Pelo contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranqüilo, o que é de grande valor para Deus.
Pois era assim que também costumavam adornar-se as santas mulheres do passado, que colocavam a sua esperança em Deus. Elas se sujeitavam a seus maridos,
como Sara, que obedecia a Abraão e lhe chamava senhor. Dela vocês serão filhas, se praticarem o bem e não derem lugar ao medo.
1Pd. 3:1-6

Falando aos maridos:

Do mesmo modo vocês, maridos, sejam sábios no convívio com suas mulheres e tratem-nas com honra, como parte mais frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que não sejam interrompidas as suas orações.
Quanto ao mais, tenham todos o mesmo modo de pensar, sejam compassivos, amem-se fraternalmente, sejam misericordiosos e humildes.
1Pd. 3:7,8

·        O que fazer para evitar a tentação de se sentir atraído sexualmente por outra pessoa que não o seu cônjuge?

O apostolo Paulo é muito claro neste assunto, quando escreve aos coríntios (1Co. 7).
“O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido”. 1Co. 7:3

No versículo 3 Paulo diz ao marido: “O marido satisfaça sexualmente à sua mulher,...”
No mesmo tom ele fala à mulher: “...e da mesma forma a mulher satisfaça ao marido sexualmente. ”
Vejam o que diz o comentário da Bíblia Dake:

 “Gr. Eumoia, boa vontade, vontade. Somente aqui e em Efésios 6:7. Significa que a esposa e o marido devem respeitar um ao outro com relação às necessidade sexual lícitas; pagar sua divida matrimonial e cumprir seu dever conjugal para com o cônjuge, satisfazendo-se mutuamente. Se eles não obedecerem a esta determinação, um pode ser responsável pela infidelidade do outro.”
Quantos maridos que decidem fazer campanhas de oração intermináveis, sem o consentimento mutuo da esposa. E ela acaba por passar por grades tentações, por causa da insensatez do marido. Ou, o oposto. A esposa decide entrar em campanha sem combinar com o marido. Vejam o que o apostolo Paulo fala a esse respeito:  
“A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido;...”
Quantas mulheres inventam mil e uma desculpa quando o esposo à procura.

 “,...e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher.
E quantos maridos dizem que estão cansados e deixam suas esposas com o apetite sexual à flor da pele, sujeitas a tentação.

Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência.
1 Coríntios 7:4,5
“Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.Efésios 5:28
“Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,Efésios 5:25
Conclusão
Só haverá contenda, dentro de casa, se eu não amar à minha esposa a ponto de me entregar por ela. E esse amor tem que ser mutuo.

Verão de 2017

Pb. Marcelo Amaral