quinta-feira, 28 de março de 2013

Será que somos aniquilados após a morte?


Em 2Co. 5: 5-8  o apóstolo fala de um “emigrar do corpo” e “imigrar ao Senhor”. No entanto, seria essa talvez uma afirmação isolada, à qual não devemos dar importância excessiva? Como é o testemunho de todo o NT? Será que outras passagens essenciais corroboram o que Paulo afirma positivamente no presente texto acerca de nossa morte? 
1. Com certeza Paulo não era “platônico”. Porém a noção de uma “alma” ligada ao corpo apenas por pouco tempo não constitui somente “filosofia platônica”. Ela é uma noção da humanidade. De 2Co 12.2-4 depreendemos a naturalidade com que o apóstolo conta com a possibilidade de, com sua pessoa e sua experiência, ter estado “fora do corpo”. Não é bíblica uma disseminada exacerbação da ligação de corpo e alma em uma unidade total. 
O texto paralelo mais próximo da presente passagem encontra-se em Fp 1.21-23. O fato de Paulo não estar pensando em um “estar com Cristo” após a parusia, mas em uma imediata chegada até Jesus, resulta da circunstância de que ele designa o morrer como um “lucro”. Ele jamais poderia afirmar isso se a morte o aniquilasse completamente. Então teria uma perda total que seria compensada somente na parusia, por intermédio de uma criação totalmente nova. Muito substancial é Rm 14.7-9. Existe um “morrer para o Senhor” do mesmo modo como existe um “viver para o Senhor”. Um “morrer para o Senhor” dificilmente pode ser a catástrofe de um aniquilamento total ou da imersão em uma existência inconsciente nas sombras. Por isso o apóstolo também nos mostra imediatamente que, em virtude de sua morte e ressurreição, Jesus é o “Senhor sobre os vivos e os mortos”. Os “mortos”, portanto, precisam estar tão “vivos” que Jesus possa exercer seu “senhorio” sobre eles. Paulo nos assegura que “somos do Senhor”, quer vivamos na terra, quer morramos fisicamente. 
O texto de 1Co 12 nos assevera que como crentes nos tornamos “membros do corpo do Cristo”. Seria imaginável que constantemente membros do Senhor são arrancados pela morte física? Em Rm 8 o apóstolo enalteceu com profundo júbilo que nada nos pode separar do amor de Deus em Cristo Jesus. Na ocasião citou expressamente a “morte” como um poder que também não é capaz disso. Na presente carta Paulo informará, em 2Co 12.4, como foi arrebatado ao paraíso. Para o israelita Paulo, o paraíso era o lugar de permanência dos justos que adormeceram. Ainda que anteriormente tenha sido para ele apenas uma doutrina teórica, agora se tornou plena realidade para ele. Esse paraíso não era um local para dormir, mas um espaço cheio de palavras santas e poderosas. 
2. Mas será que tudo isso é apenas “paulino”? Será que o próprio Jesus considera doutrina correta uma teologia que ensina a morte da pessoa toda com o corpo, a alma e o espírito? 
O contrário é a verdade. Jesus se posicionou fundamentalmente diante dessa questão em seu diálogo com os saduceus sobre a “ressurreição” (Mt 22.23-33; Lc 20.27-40). É digno de nota que Jesus não fale de uma ressurreição vindoura por ocasião da irrupção do reino de Deus, mas demonstra a partir de Êx 3.6 os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó como vivendo perante Deus já agora. Na oportunidade ele formula o princípio de que Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos. Logo a imediata “vida após a morte” não se encontra, para Jesus, em contradição com a “ressurreição”, mas a confirma. 
Esse texto representa um paralelo perfeito com o diálogo de Jesus com Marta em Jo 11.23-26. Marta “sabe” acerca da “ressurreição no último dia”. Jesus, porém, lhe atesta uma “vida” que o crente em Cristo possui desde já e preserva ao atravessar a morte física. A partir desse texto cabe considerar todas as referências em que a posse da “vida eterna” é atribuída ao crente desde já. Será que a “vida eterna” pode tornar a “morrer”, se e porque o corpo terreno se decompõe? Será que de fato devemos crer que aquele que “passou da morte para a vida” (Jo 5.24) agora, ao morrer fisicamente, recai “da vida para a morte”? À certeza de Rm 8 corresponde, nas palavras de Jesus, a asseveração sobre os seus: “Ninguém arrebatará as minhas ovelhas da minha mão” (Jo 10.28). “Ninguém” – ou seja, nem mesmo a morte. Mas tampouco o relato de Jesus sobre Lázaro e o homem rico deve ser descartado por nós como “parábola”, mas devemos levá-lo a sério como a palavra daquele que sabe todas as coisas, inclusive a situação dos que passaram pela morte física. 
Não deixa de ser essencial que nos casos de reavivamentos de mortos de que somos informados, esses mortos sejam alcançados pela voz poderosa de seu Senhor ou do apóstolo, podendo dar-lhe ouvidos e obedecer. De forma alguma morreram totalmente, mas sua pessoa continua vivendo e pode ser interpelada. 
3. Como se relaciona esse “viver junto do Senhor” com a “ressurreição”? Temos pouco a dizer sobre isso, pelo fato de que as declarações do NT sobre o estado intermediário na realidade são de certeza inequívoca em sua forma fundamental, mas não nos fornecem uma descrição palpável. Uma coisa, porém, é certa: após a morte ainda não estamos na “glória”. Estaremos do mesmo modo em “estado de espera” como nosso próprio Senhor “aguarda, daí em diante” à direita de Deus (Hb 10.13; 1Co 15.25s). Não se trata pura e simplesmente de nós mesmos e de nossa bem-aventurança! Estão em jogo as grandes coisas de Deus. Elas de forma alguma chegaram ao alvo quando nós chegamos a uma vida junto do Senhor após nossa morte física. A “glória” virá somente por meio da parusia, por meio do reino de paz no último milênio da história desta terra, por meio do juízo mundial, por meio da criação do novo céu e da nova terra, nos quais habita justiça [2Pe 3.13]. Somente ao presenciarmos esses grandiosos eventos obteremos participação na “glória”, que nos foi assegurada com certeza (Rm 5.2; 8.17s; 2Co 4.17s; Cl 3.4; 1Ts 2.12; Jo 17.24). Por isso na realidade não aguardamos a morte e a continuação de nossa vida no paraíso, mas a “ressurreição”, a “redenção de nosso corpo” (Rm 8.11; 8.23), e sabemos que seremos iguais a nosso Senhor até na gloriosa corporeidade, quando o vermos como ele é (Fp 3.21; 1Jo 3.2)